Quero começar essa nossa conversa com alguns tópicos propostos na
semana anterior como:
- A família
estava preparada pra enfrentar o impacto dessa pandemia quanto ao isolamento
social ou quarentena?
- Os filhos
estão conhecendo melhor os pais e estes aos filhos?
- A escola
veio pra sua casa e você está sabendo lidar com isso?
-
Pós-pandemia a família sairá mais fortalecida, mais unida? Ou os espinhos
ficarão mais aguçados?
Para
refletirmos sobre estas questões convido vocês a conhecerem a história de uma
família que também precisou ficar em quarentena devido ao caos no seu entorno.
Estou falando da saga de Noé. Tome comigo o texto bíblico de Gênesis, capítulo
6.
O Senhor
Deus viu que havia crescido muito a maldade das pessoas na terra (v. 5). Então,
Deus encontra Noé, homem justo e íntegro que
tinha três filhos: Sem, Cam e
Jafé (v.10).
Deus disse a Noé “estabelecerei minha aliança contigo. Entra na arca
com teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos" (v.18) . O
Senhor disse ainda a Noé que tomasse de todos animais e colocasse também na
arca. E quando Noé entrou na arca, um dilúvio inundou toda a terra. Choveu
sobre a terra quarenta dias (Cap. 7,12). A narrativa continua até o capítulo 9
de Gênesis.
Mas vamos refletir sobre as entrelinhas do que o texto não diz: com
certeza vivenciaram esta “quarentena”. Pois bem, vamos aplicar aqui as
perguntas acima:
- A família
de Noé estava preparada pra enfrentar o impacto do dilúvio quanto ao isolamento social ou quarentena?
Se nos colocarmos no lugar deles, vamos perceber que, assim como nossa
família, eles descobriram ou melhor dizendo, não tiveram como esconder
determinados costumes ou manias que não dava pra perceber antes. Assim como os
recém casados têm que adequar regras para as coisas cotidianas como lugar da
roupa suja é o cesto e não o chão; a tampa no tubo de pasta fechado, a tampa do
vaso sanitário levantada; a louça como tarefa de todos, enfim..., assim também
não foi diferente com Noé e sua família. Imaginem: quem ficaria com o cuidado
da alimentação e higiene dos animais também confinados? Devia ser um empurra,
empurra... porque ninguém queria fazer essa tarefa...
Outra questão: - Os filhos de Noé passaram a conhecer melhor os pais e
estes aos filhos?
Confinados
num espaço relativamente pequeno como a arca, (como nossa casa), o que passava
despercebido agora está à flor da pele. Será que todos os filhos concordavam
com a postura de Noé? Como era o temperamento deles? Começa a aflorar os
queixumes, as imposições, quem faz o quê? Como distribuir tarefas? Será que
havia concordância?
Não podemos nos esquecer que neste confinamento estava a esposa de Noé
com três noras. Será que não havia invejas? Qual seria a privilegiada com a
sogra? A queridinha? O filho queridinho?
Outra questão: - Pós-dilúvio a
família de Noé sairá mais fortalecida, mais unida? Ou os espinhos ficarão mais
aguçados?
Temos aqui
uma questão importante. E quero ilustrar esse acontecimento no interior da arca
com a comparação da lagarta e da borboleta.
Se a lagarta
resistir ao novo que é ser borboleta e insistir em ser lagarta, ou seja, ser a
mesma de antes e não aceitar a mudança , não se deixar transformar, ela estará
fadada à morte ou, podemos dizer, a perder o sentido da verdadeira vida que é
ser borboleta. Este é o risco que todos corremos se passarmos pelo nosso tempo
de “quarentena” ou de reclusão em nossa ‘‘arca” sem nos deixarmos ser
transformados. O silêncio do casulo para a lagarta é tão necessário, pois ali
acontece todo o processo de metamorfose. E veremos, então, uma linda borboleta.
Assim,
podemos entender que o que aconteceu com a família de Noé, pode acontecer
conosco. Esse processo pode ser um paradigma. Não temos uma resposta pronta.
Mas, ao ceder à transformação, veremos coisas maravilhosas acontecendo.
E, aqui, não me refiro apenas à metamorfose que significa uma mudança
de forma, mas a uma metanóia, ou seja,
uma mudança de mentalidade, portanto de comportamento; refiro-me ao que, na fé,
chamamos de conversão.
Mas vamos à
última questão, pois troquei a sequência
de propósito, para entendermos o que pode e deve acontecer no “interior” da
arca, do casulo, de nossos lares...
- A escola
veio pra dentro da “arca” e eles souberam lidar com isso?
Vamos
entender a escola aqui como o lugar do aprendizado que, até então, estava
situado fora fisicamente, ou seja, em outro
espaço territorial. E, agora, está dentro, próximo, até demais,
argumentariam alguns. Mas qual o ganho?
Ou qual a perda?
Voltando à
arca onde estavam confinados Noé e sua família, o processo educativo não foi
tanto o saber, mas o conviver, o respeitar os limites emocionais- físicos – até
mesmo culturais daquele grupo. Tiveram que abrir mão de interesses pessoais
para que prevalecesse o bem comum. No caso, o foco está em nossos filhos: eles
são os mais frágeis, eles, agora, estão no centro das atenções. Eles serão
pacientes, se formos pacientes. Eles serão amorosos, se formos amorosos. Eles
serão pessoas de oração, se verem em nós essa busca pela oração.
A promessa
dada a Noé é também a que chega a todos que estão confinados, ou no casulo: ao saírem da
arca, Deus abençoou Noé e seus filhos, dando a mesma benção primeira ao criar o
homem em Gênesis 1,28. Ele repete a benção dizendo: “Sede fecundos e multiplicai-vos e povoai a
terra ...’’ (Genesis 9,7).
Homens novos
para uma terra nova! É isto que aprenderemos, se formos dóceis à vontade do
Senhor. Saiamos do casulo como
borboletas: belas, dóceis, amáveis e simples.
Deus seja
louvado!
Na próxima semana vamos aprofundar sobre o comportamento das crianças no período da quarentena. Até a semana que vem, se o bom Deus assim o permitir.