Tanatologia: Como falar de morte com as crianças - 2

 

“Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel.”

Lc 2, 29-32



Quando morre alguém muito próximo de nós, um parente querido, um amigo, ficamos com nossos sentimentos abalados, como os discípulos de Emaús, e a vontade que temos é de fugir, se distanciar e ficar em silêncio. Os discípulos não pensavam em outra coisa senão na morte e no fim de tudo. Para eles estava acabado, não existiam mais projetos. Eles não conseguiam ver esperança nem mesmo nas palavras que Jesus lhes havia dito anteriormente.

A morte tem este “poder” de trazer às pessoas sentimentos difusos e diferentes: tristeza, medo, insegurança, falta de estímulo e ânimo, entre outros. Entretanto por mais difícil e triste que seja, ela é para nós cristãos a certeza que encontraremos a alegria e a paz ao lado de Deus Pai.

Sabemos que este assunto é algo que nos amedronta, preferimos não discutir, não falar sobre o assunto, tendo a “falsa impressão” de que se não falarmos sobre isso, ela não alcançará a nós e nem àqueles que amamos.

Pensemos nas crianças. Parece-nos assustador tratar deste assunto com os pequenos, ou porque não sabemos como falar ou porque nos recusamos a dialogar sobre este assunto.

Você se lembra de quando era criança de ter ido a velórios? Como era? Busque na sua memória de infância a participação das crianças nos velórios.

Para alguns, a experiência pode ter sido traumática, mas para a maioria é algo que nos remete à diversão, euforia, curiosidade e até mesmo conforto. Calma, vou explicar:

Quando morre alguém da família da criança seus parentes, amiguinhos da escola, professora, dão mais atenção a ela, o que remete ao conforto, acalento, proteção.

A família não está preocupada com coisas habituais e rotineiras como: tomar banho, dormir, comer. Inclusive, comer é algo que mais se faz, trazendo sentimento de liberdade, diversão;

Sempre chega alguém (parentes e amigos) que não se vê há muito tempo e a expectativa da chegada causa certa euforia e alegria do reencontro.

Momento específico como o enterro acontece no decorrer do processo e para muitas crianças passa até por despercebido, ou indiferente, pois elas não conseguem compreender a realidade e ou consequência do mesmo, tanto que algumas crianças após alguns dias do velório perguntam para os adultos quando “a pessoa irá voltar”.

Para encerrar nosso texto hoje deixo aqui um pequeno exercício mental.

Imagine, ou tente se lembrar: como seria para você estar de luto na sua infância, adolescência e na vida adulta. Há alguma mudança de compreensão e aceitação?