Tanatologia: Uma reflexão sobre a morte e o morrer - Como falar de morte com as crianças - 1


 

Em nossa cultura ocidental, realmente acreditamos que as crianças quase não sofrem desgostos (ou se pretende que não tenha nenhum) e, quando sofrem uma perda, se oferece rapidamente um substituto, algo que possa substituir o objeto perdido, negando-lhes desta maneira, a possibilidade de avaliar os benefícios que obtinham do objeto perdido e da expressão, vivência ou enfrentamento da sua dor. O substituto, é o amortecedor de seu sofrimento e da dor, se transforma em um “detrator” da realidade que observaram e impede-lhes ponderar e analisar a situação segundo suas próprias possibilidades, “pois se deve evitar a dor”.
A forma com que a criança se adapta a perda de algum objeto real ou imaginário depende de muitos fatores:
- A idade da criança no momento da perda;
- As características do objeto perdido (caso se trate do pai, mãe, irmão, mascote, brinquedo...);
- A relação particular da criança com o objeto perdido (grau de apego ou familiaridade);
- As características da perda (repentina, violenta ou lenta);
- A sensibilidade e a ajuda dos membros da família diante de seus sentimentos e necessidades emocionais;
 - Sua própria experiência de perdas anteriores;
 - Sua herança familiar, o ensino religioso e cultural que tenham recebido;
- A atitude que adquiriu(aprendeu) através da observação da reação dos pais e familiares diante da morte etc.
Além disso, quando uma morte acontece na família, há um fenômeno muito comum, que é norma em alguns setores: as crianças são imediatamente separadas do ambiente familiar. São levadas para longe, “para que não presenciem a dor e não se angustiem”, enquanto os adultos se dedicam a sofrer sua própria dor, prescindindo de consolá-los.
Entre cinco e nove anos de idade mais ou menos 60% das crianças personificam a morte como um ser com existência própria, ou a identificam com uma pessoa morta: a morte é invisível, mas espreita escondida na noite, especialmente nas regiões onde há cadáveres como nos cemitérios.
Até os seis anos, a criança percebe a morte como “separação” de seus entes queridos, o que é espantoso. Para ela “estar morto é uma espécie de continuidade da vida, uma simples diminuição da vitalidade, que pode ser interrompida como o sono, um fenômeno reversível”.
Seu pensamento mágico confunde realidade com fantasia; o conceito temporal do “para sempre” da morte não existe. Além disso, não podem tolerar tais sentimentos dolorosos durante longos períodos, de forma que sua aflição é intensa e breve, ao mesmo tempo em que recorrente.
A criança maior de seis anos de idade percebe a morte como um “castigo por más ações” começam a parecer as consequências de sua educação religiosa, social e familiar. Contudo, a etiologia da morte não é consistente.
Suas respostas vão encaminhando para causas específicas, mais do que processos gerai: flechadas, tiros, velhice, explosões, ataque cardíaco etc. Durante este período há uma autêntica curiosidade por saber o que acontece depois da morte.
Sem dúvida, o acompanhamento das crianças depende, em grande medida, da idade delas. A principal indicação é estar-se atento às suas perguntas, às suas respostas, conduta, favorecendo a expressão de seus pensamentos e sentimentos.
Na próxima semana continuaremos a tratar deste assunto. Mande suas dúvidas para que possamos abordá-las. Abraços.