Passamos várias semanas falando sobre a perda de um ente querido. Mas meu coração dizia que faltava abordar uma dor imensurável. A perda de um filho que ainda nem nasceu – Aborto, ou até mesmo nasceu e morreu em seguida.
O aborto é entendido como a interrupção da gravidez, quando
o feto não pode subsistir fora do útero materno. Pode ser classificado em:
- Espontâneo - Causas naturais;
- Provocado - Induzido por adulto;
Neste texto iremos tratar especificadamente do aborto
espontâneo, quando a interrupção da gravidez aconteceu de causas naturais, sem
a livre intervenção humana. A causa normalmente é a má formação do próprio
embrião (estudos mostram que ocorrem de 10 a 15% de abortos em todas as
concepções). Mas antes vamos pensar um pouco com a chegada do bebê. Geralmente
a notícia é comunicada pela família de forma alegre, festiva.
- Iniciam-se os preparativos;
- Os pais querem logo contar para todos;
- Não faltam parabéns, comemorações, presentes;
- Começa a pensar no quarto, decoração, nome, roupas, enfim
tudo o que rodeia o universo do bebê.
Mas aí do nada aquilo tão sonhado, desejado, esperado, parte
antes mesmo de nascer, ou mesmo nasce, fica pouco com a gente e vai embora.
O que fazer com o vazio? A dor?
Como falamos durante estas semanas, quando perdemos um ente
querido encontramos “espaço social” para ser sentido. Diferente de uma gestação
interrompida.
As pessoas muitas vezes dão pouco acolhimento e a dor é
desacreditada. É comum a mãe ouvir frases como:
- Já aconteceu comigo, é normal;
- Era só umas células nem era um bebê;
- Você é jovem, logo você terá outro;
- Eu não entendo por que você chora tanto;
- Ainda bem que aconteceu agora já pensou se já tivesse
maior, ou se tivesse nascido;
- Foi Deus quem quis assim;
Interessante pensar que esta dor, este luto não é permitido
pela nossa sociedade. Quando perdemos os pais ficamos órfãos, quando perdemos o
esposo (a) ficamos viúva (o), mas quando perdemos um filho? Que nome é dado?
Não tem nome, não existe nomenclatura para a perda de um
filho. Lembrando que desde que sabemos de sua existência já o denominamos
filho.
Às vezes vejo nas redes sociais algumas mães quando
“descobrem” a gravidez, postam fotos de sapatinhos (azul e rosa), utilizam
certas denominações: “pacotinho de amor”, “o melhor de mim”, “presente de
Deus”.
Aí de uma hora para outra a interrupção do sonho. E os
questionamentos aparecem:
- Por que isso aconteceu comigo?
- Um monte de mulheres nem querem ter filhos e eu que quero
tanto, perdi o meu;
- O que eu fiz de errado se estava indo tudo bem?
Quando morre uma pessoa querida, você se recorda das coisas
boas que ela fazia, traz à tona lembranças, acontecimentos da vida dela. Mas e
quando é um bebê? Ele ainda não tem uma história.
Muitas vezes a mulher
não sente vontade de falar sobre o assunto, até porque a sociedade não dá
abertura para este diálogo. Como citamos anteriormente não se encontra espaço
social para falar sobre o assunto. As pessoas chegam à mãe e perguntam sobre o
bebê, quando a mãe diz que o bebê se foi, as pessoas não sabem o que dizer,
ficam constrangidas, desconversam.
E o Pai? Com ele é ainda pior porque ele além de sentir a
dor, ainda ouve que tem que ser forte para ajudar sua mulher. Muitas vezes ele
“camufla” a dor por não saber o que fazer ou falar passando por insensível, a
mãe pode até achar que ele não queria ou não amava o bebê tanto quanto ela. Se
a licença paternidade é curta para se conectar com o bebê que nasceu, é
igualmente curta para tentar se curar do bebê que perdeu.
O que pode e deve nos acalentar é que no tempo certo a dor
não será tão grande, nunca “esqueceremos”, mas saberemos viver sem ter tido a
“história” desejada ou sonhada com este filho que se foi, e que, este pequeno
anjo voltou aos braços do Pai “antes mesmo que te formastes no ventre materno,
eu te conheci, antes que saísse do seio de sua mãe, eu te consagrei” Jr1,5.
Se você conhece alguém que sentiu esta dor, convido você a
participar comigo de uma oração na próxima semana. Acompanhe aqui no Blog e
participe. Importante que seu esposo(a) esteja junto para a oração seja
completa. Abraços e até a próxima semana.
Tia Cris